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Sonhos Urbanos

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(RE)ENCONTRO

por Jorge, em 24.06.05
Contemplo a fachada do hotel durante um longo momento, fluindo entre o desejo de entrar e abandonar o local para sempre. Sempre fui uma mulher indecisa! Finalmente dou um passo em frente e decido entrar.

São onze horas da noite. Combinaste no quarto do costume às onze e meia. “No quarto do costume” é uma expressão que quase me dá vontade de rir, atendendo que não nos vemos para mais de quinze anos. Telefonaste à dois dias atrás com uma voz de nítida urgência e não tive como recusar este encontro.

Interrogo-me o que quererás de mim?

O hotel parece deserto, não está ninguém na recepção. Toco à campainha e aguardo. Finalmente um homem chega. O mesmo homem de há quinze anos atrás só que mais decadente. Não parece reconhecer-me. Também devo ter envelhecido! Peço, tal como fiz inúmeras vezes no passado, a chave do quarto número sete. Diz que estou com sorte porque o quarto que pretendo está livre. (Não digo mas penso que quarto estará ocupado naquela espelunca sem nome quase no fim do mundo). Finjo que não reparo nos olhos esfomeados que lança na direcção do meu peito, tiro-lhe a chave da mão sem uma palavra e subo as escadas.

Percorro o corredor inteiro, os saltos dos meus sapatos a marcarem o compasso, até me encontrar diante da porta. Estanco diante dela e por instantes quase me perco em memórias. Ficávamos sempre no quarto número sete! Acho que éramos os dois supersticiosos: sempre quisemos para noites sem nome o número da perfeição e da totalidade.

Finalmente coloco a chave à porta e giro-a. A porta abre-se e eu entro de encontro ao futuro ou de volta ao meu passado, nem sei...


Texto: Raposa

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