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Sonhos Urbanos

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O (último) Reencontro

por Jorge, em 20.02.06
Aceitei ir a uma festa para não ser sempre visto como um bicho-do-mato. Perdi-me num labirinto de pessoas com copos na mão, encantei-me com as visões que tive de pessoas simpáticas e vistosas. Sorri de forma envergonhada ao cruzar-me com alguns olhares, obviamente estava a sentir-me como um peixe fora de água. Aquele salão magnífico, as pessoas que não conhecia e a bebida que já tinha ingerido, tornaram os meus pensamentos esvoaçantes.

Dei por mim a pensar naquela que me aprisionou o meu coração nas teias do amor. Já não a via há séculos, literalmente. Estes pensamentos foram interrompidos por uma imagem que me pareceu irreal

Precisamente no lado oposto da sala.

A distância não era fácil de percorrer sem dar muito nas vistas. Reconheço aquela pele pálida e os seus olhos doces em qualquer realidade paralela ou plano existencial. Sorriu-me como uma menina simpática e os seus olhos brilharam de entusiasmo. Um reencontro muito desejado, depois destes séculos de afastamento.

O nome dela é Morte, e é irmã do meu amigo Sonho. Sim, eu sei que ela é tão famosa como temida. Quem a teme é porque não a conhece intimamente, entre nós sabemos que o Sonho é bem mais assustador apesar de entrarmos livremente no seu reino, noite após noite. Esta reflexão é do meu amigo Neil, não minha.





Tenho seguido um caminho bem diferente dela, apesar de termos muito em comum. Ambos somos completamente apaixonados pela vida, temos sentido de humor e gostamos de conversar. Pessoalmente só a vi uma vez, mas nunca deixei de pensar nela, é uma presença inesquecível.

Estivemos juntos no casamento de Orfeus, aquilo não correu muito bem. Aliás lembro-me que, em parte, ela estragou o ambiente da festa. Com muita pena minha, não a tornei a ver até hoje. Sou daquele tipo de aventureiros que vive afastado da morte o tempo que consegue, apesar de ter uma paixoneta secreta (das grandes) por ela.

Se a minha avó descobre que me apaixonei pela Morte dirá, de certeza: “Só te apaixonas pelas mulheres erradas, uma delas será a causa do teu fim”. A minha avó sempre foi uma mulher astuta.

Vivi muitos séculos, hoje a minha vida termina; ela está aqui por minha causa; a minha hora chegou.

Com harmoniosos movimentos aproxima-se de mim e sussurra:
- A partir de hoje estaremos juntos para sempre. Quando te sentires preparado dá-me a tua mão.
Estende-me a sua bela mão e entrego-me a ela sem qualquer resistência; sempre tive um fascínio por mulheres interessantes. Damos as mãos e seguimos, juntos para a eternidade.

Não há espaço para tristezas, é aqui que me reencontro com o meu Amor.

Texto: Jorge

Ilustração: Joe Pekar

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