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Sonhos Urbanos

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O ROUBO DO GALO (reciclado do Palavras Contadas)

por Jorge, em 06.09.10

O som imaginado de dentes metálicos povoava a mente assustadiça do Galo. Do fundo das suas penas, sabia que uma ameaça-arquétipo estava para surgir na sua vida. Aflição vincada nos seus dias. Desejava viver para sempre, a morte não era convidada para os seus pensamentos.

 

Investiu grande parte da sua fortuna pessoal a equipar a sua capoeira, algo fortemente criticado pela gorda galinha branca (quem realmente mandava na zona). Todas as noites eram as mesmas invasões do seu mundo onírico, o cheiro a morte, a promessa de uma dor aguda e fria e o vazio de deixar de existir. Os alarmes de segurança e as grades electrificadas pouca segurança lhe deram.

 

Numa noite fria de Outono, o seu medo tomou forma. Acordou com uma matreira Raposa castanha perto de si. Um pesadelo de carne e ossos, do qual não conseguimos acordar... sensação asfixiante. A respiração ficou difícil, o som do coração converteu-se num tambor... Que triste fim era aquele.

 

- Calma! - Disse a Raposa – vim só conversar. Tens chá?

- Camomila serve? - Sussurrou o Galo ainda aterrorizado

- Claro sossega-me e é bom para ajudar na digestão - sorriso sacana - Sabes que a nossa história é um cliché?

 

O Galo começou a preparar o chá, aproveitando cada instante para sondar a sua capoeira em busca de alguma coisa que pudesse usar como arma contra a Raposa.

- Qual história? . perguntou apenas para ganhar tempo.

-A do roubo do Galo... Uma raposa matreira invade uma capoeira para roubar o galo, mais tarde na sua toca, transforma-o numa suculenta comezaina. Eras e Eras com a mesma história a arrastar-se pelo Tempo e pelo Espaço. Talvez tenha chegado à altura de pensarmos neste encontro de uma forma diferente

- O que queres? - Por esta altura as penas do Galo estavam ensopadas com um suor frio. Por um bocado, a raposa apenas sorriu.

- Vim dar-te em algo para pensares, vamos abandonar a rotina - Dito isto, a Raposa pegou numa pistola e deu um tiro na sua própria cabeça.

 

O Galo, em choque, urinou-se penas e patas abaixo e desatou a soluçar.

 

Texto: Jorge