A minha mãe disse-me em tempos para não falar com estranhos, mas quando apareceu uma estranha de olhos profundos e sorriso encantador... bem... não pensei muito, verdade seja dita. Mais estranho é que não reparei que tinha a pele verde e umas asas transparentes. Prometeu-me o Universo em troca do meu coração, argumentei que precisava dele para viver, não era desse que falava. Era o outro coração, o que nos fazia amar (ou odiar, dependia da situação). Seduzido por ela, abidquei do meu coração. Em troca recebi tudo o que existia... e passei a viver no vazio.
Se gostam de momentos bem passados a verem pinturas sobre tela, aguarelas e azulejos, peguem na vossa agenda!
Esta semana, no dia 15 (3ªfeira), podem visitar a exposição "Gatafunhos e outras Artes".
Onde?!?!?!? No Hospital de Dia Eduardo L. Cortesão (serviço do Hospital Miguel Bombarda), entre as 10h e as 15h. A entrada da exposição encontra-se na Rua Gomes Freire, 161.
Permaneço imóvel no canto da sala, a arma a pender-me da mão direita.
Finalmente, aproximo-me de ti e contemplo o teu corpo morto. Os teus olhos vítreos ainda insistem em fitar-me. Sei perfeitamente como me vês: uma mulher demoníaca aparentada com serpentes.
Como eu abomino a tua construção da realidade. Para ti tudo tem que ser bom ou mau, paz ou guerra, anjo ou demónio, preto ou branco, católico ou herege. Tão racionalizado! Tão simplista! Onde deixaste toda uma paleta de cinzentos?
Há tantos Universos que te escapam... Pensando bem, escapa-te o meu Universo inteiro.
Caio na tentação de te defender, mesmo agora a minha tendência é justificar-te... [... E afirmo veementemente que desde pequeno te veicularam estes valores. Como podias ser diferente?] Pois eu recuso essa história de que o pecado entrou no mundo pela mão das mulheres.
Pensas-me sempre amoral só porque vivo sem esse tipo de grades. Não te finjas ingénuo! Sabes perfeitamente que não existem acções 100% boas ou 100% más. Por muito preocupado que estejas com as consequências do que fazes nunca consegues evitar que alguém sofra. Eu faço simplesmente o que tem de ser feito sem recriminações. E considero a minha forma de vida um acto de inteligência.
Por isso, enquanto os teus olhos mortos gritam pecadora os meus que clamavam por justiça, gritam liberdade.
(quando fico sozinho sinto-me distante da humanidade)
Olho pela minha janela e vejo um estranho mundo lá fora. Barulhos fortes de pesadas máquinas com rodas, cheiro agressivo das nuvens cinzentas e pessoas apressadas.
(queria um abraço teu, ou que te sentasses comigo a olhar pela mesma janela)
Corro para a cozinha, adiciono um bocado de detergente de louça a um bocado de água, agito a mistura. Da gaveta, retiro uma palha com riscas azuis.
Volto à mesma janela, abro-a e com os acessórios que recolhi faço bolas de sabão.
(podia viajar numa dessas bolas transparentes que se elevam pelo ar sem pensarem duas vezes)
Passadas umas horas, o Sol recolhe-se. Fica a Lua, muitas luzes artificiais dominam a paisagem urbana. Até que a uma determinada hora, estas apagam-se.
(e aqui fico... afastado da humanidade a pensar em como queria um abraço teu)
Quando coloco a máscara a vida torna-se muito mais fácil. Ninguém me vai associar ao que faço, apenas a cidade reconhece quem sou. Digo que é para proteger os outros, mas na verdade quero é proteger-me.
A máscara dá-me força, distancia-me dos meus semelhantes, permite-me fazer coisas incríveis. Mas por detrás da máscara continua a existir um rapazinho, e é este rapazinho que tem que superar os obstáculos para crescer.
Começo a desconfiar que vivo num frigorifico, talvez por isso é que partilho o quarto com um pinguim de nome Sr. Cubo de Gelo. Lá vou eu recorrer ao aquecedor, a um cobertor "portátil" e à boa disposição para me conseguir manter quente para fazer o que preciso.
Em jeito de síntese: Imortalidade e riqueza são os objectivos principais da Grande Obra; não no sentido capitalista socialmente aceite pela maioria dos humanos, mas no reconhecimento da riqueza e da intemporalidade da nossa natureza individual.
A riqueza obtém-se através da nossa purificação ou seja, após nos libertarmos de vergonhas, medos ou qualquer outro tipo de limitações atingiremos a nossa essência (o ser dourado da linguagem alquímica, ou aquele que realmente somos muito utilizado nos dias de hoje) que já existe em nós. Podemos pensar nisto como um regressar a nós mesmos, a um estado natural.
Na nossa cultura, passa-se muito a ideia que a humanidade já foi mais evoluídas mas que se deu uma queda, mitos como a Atlântida ou Adão e Eva são sobre uma existência melhor que se perdeu. A partir desta ilustração talvez seja mais fácil explicar que a nossa essência é essa forma de existir superior, que se perdeu por inúmeros motivos (a queda) e agora estamos a tentar regressar lá. Simbolicamente é um regresso ao Jardim do Éden, ou um anjo caído a tentar voltar a entrar na Cidade Celestial.
Há quem diga que após alcançar o Ser Dourado (a nossa Natureza, ou essência) é realmente possível transmutar metais não preciosos em Ouro (aqui entre nós, ainda não o experienciei directamente, mas...).