Toupeira em Lisboa
Eu e o Kerouac no metro, "Vagabundos do Dharma". Lá derrapamos sobre os carris e as estações vão passando. Caras desconhecidas, algumas com ar derrotado, o mesmo ar que em tempos associei a ser adulto. Pelas longas horas que acumulo de viagens em transportes públicos, aprendi que posso optimizar o tempo, por isso leio ou escrevo. Mesmo que tivesse carro próprio, continuaria a usar os transportes públicos, aproveito melhor o tempo. Sim, tenho mais que provas para concluir que não é por chegar mais cedo a casa que aumento a minha produtividade.
Movimento-me excepcionalmente bem debaixo da Cidade dos Corvos, abaixo dos pneus envolvidos em engarrafamentos, imune a buzinas enervantes, sem ver a chuva... Quando regresso à superfície já estou perto do meu destino: a Torre. Olho para o céu antes de entrar pela porta que me isola do mundo. Fecho o Kerouac numa gaveta e, durante nove horas, concentro-me noutras realidades.