O fuzilamento
Uma parede crua e fria, num dia de luz branca e temperatura perto dos 8º C, foi o cenário que escolhi.
Dei a primeira ordem em voz alta e nada aconteceu. Aguardei uns bons trinta segundos e, desta vez, berrei com todo o ar dos meus pulmões. Começaram a entrar as pessoas... Tão diferentes entre si. Traziam despertadores, tablets, portáteis, telemóveis, televisões, fotografias de pessoas, horários escolares, mensagens de natal de presidentes da republica portuguesa, programas de eleições, entre outros artefactos. Cada uma tinha escolhido aquilo que a consumia (ou o símbolo desse consumo) e enconstou à parede crua e fria.
Afastaram-se, pegaram em armas de fogo e, sem qualquer acordo, dispararam em unissono. Pelo fogo consumiram aqueles artefactos. Depois, terceiros vieram recolher os restos e fez-se o enterro sem grande festejo. Não foi um momento puramente emocional, foi uma decisão que recrutou a razão, trazia dor mas foi uma vitória da liberdade de escolha.
Ainda nesse dia o desafio foi não escolher um novo objecto para o consumir...