Por quem os sinos dobram?
No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main. If a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friend's or of thine own were: any man's death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bells tolls; it tolls for thee.
John Donne, Meditation XVII
Em tempos passados interroguei-me inúmeras vezes como seria se o dia seguinte não acordasse para mim.
Haveria algo em todo o Universo que chorasse a minha ausência?
Gostaria de pensar que sim, que efectivamente a minha vida fazia a diferença. Mas, na altura, as evidências diziam-me que não. Um ser humano não é tão importante ao ponto de fazer girar planetas!...
Infelizmente sentia que a Natureza seguiria sempre o seu curso indiferente aos desejos, sentimentos, mágoas e desilusões dos seres humanos. A Terra continuaria a girar, o dia acabaria por nascer, o sol brilharia ou cairiam gotas de chuva, suceder-se-iam guerras, manter-se-ia a fome e a miséria que conhecemos e à qual já nos habituámos, e todas as nossas expectativas em relação à máquina do mundo não seriam afectadas pelo ritmo dos nascimentos e das mortes...
Foi na mesma altura que desacreditei deus. Se deus existisse, então tinha deixado o Homem entregue à sua própria sorte. Um ser que se diz pai da humanidade e se demonstra indiferente ao sofrimento do mundo não merece o meu reconhecimento quanto mais a minha adoração!
Mais tarde mudei de opinião, não em relação a deus que permanece na descrença, mas em relação à importância do ser humano.
A Natureza não sofreria, é verdade, mas aqueles com quem criamos laços, aqueles que cativámos, veriam o Universo empobrecido pela ausência de um único ser. E para esses a Natureza seria transformada ao ponto de não verem o sol ainda que ele brilhasse no céu.
Por isso, hoje acredito que um único ser humano move o Universo inteiro e transmuta toda a realidade! Os sinos dobram realmente por ti!
Texto: Raposa